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Mais de 6,5 milhões de pessoas idosas com deficiência enfrentam desafios de autonomia e políticas públicas eficazes, segundo dados do IBGE.

Uma mão com unhas pintadas de vermelho segura quatro cadernos de prova do Enem 2025. Os cadernos têm cores diferentes — azul, amarelo, branco e verde — e exibem na capa o título “Exame Nacional do Ensino Médio”. Cada um traz um código de identificação e indicações como “1º dia” e “caderno 4 – verde”. Ao fundo, o ambiente está desfocado.

O Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) trouxe para a discussão o envelhecimento da população brasileira e suas diferentes perspectivas. Em torno desse debate, surge um questionamento essencial: a sociedade brasileira reflete sobre o envelhecimento da pessoa com deficiência?

De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), com base no Censo Demográfico de 2022, o Brasil possui cerca de 14,4 milhões de pessoas com deficiência, das quais 6,55 milhões são idosas. O Estatuto do Idoso considera idoso aquele que tem 60 anos ou mais. 

As pessoas com deficiência ao longo da vida enfrentam diversos desafios e dificuldades de acesso a cuidados adequados reduzem consideravelmente a longevidade dessa população. Ainda assim, o avanço de políticas públicas de saúde e inclusão permitiu que mais pessoas com deficiência alcançassem a chamada “melhor idade”. O desafio agora é garantir qualidade e dignidade nesse processo.

Para a professora e mestra em teoria da literatura, Yasmin Maria Galindo, a importância desse tema é estimular discussões amplas e interseccionais. “A gente busca sempre abordar o enlace dessas temáticas, né? Então, por exemplo, eu tive alunos que colocaram na redação a questão do capacitismo com as doenças que vão aparecendo com o tempo ou que se aprofundam a partir do momento que esse ser humano envelhece. Então, quando o Enem traz um tema como esse, ele joga luz pra várias questões de vários recortes, principalmente dessas parcelas que são invisibilizadas”, afirmou.

O tema proposto pelo exame, segundo especialistas, abre espaço para um debate mais profundo sobre as deficiências adquiridas com o envelhecimento e sobre o dever coletivo de garantir políticas públicas efetivas.

A estudante Gabriella Carvalho, que realizou a prova, quando perguntada se teria repertório para falar sobre o envelhecimento da população brasileira com deficiência, afirmou:“Acho que depende da deficiência, sabe? Se fosse sobre autismo, sim, porque eu tenho um amigo autista grau três, e a gente pensa muito sobre o futuro dele também, sabe? Quando a mãe dele morrer, porque ele tem muitos irmãos, mas eles não vão cuidar dele como a mãe cuida. E assim, ele aprendeu a fazer uma lasanha ontem, sabe? É muito difícil, a gente acaba sempre pensando nesse assunto.” 

O depoimento de Gabriella ilustra uma realidade recorrente: a sociedade ainda tende a infantilizar tanto os idosos quanto às pessoas com deficiência, negando a eles autonomia e individualidade. Essa visão reforça estereótipos capacitistas que colocam o idoso e, por extensão, a pessoa com deficiência como um “peso” a ser cuidado, e não como um cidadão pleno, capaz de decidir e existir por si mesmo.

O tema do ENEM 2025 provoca um debate urgente sobre envelhecimento no Brasil, especialmente quando olhamos para as pessoas com deficiência. Ele nos chama a encarar, sem rodeios, a necessidade de políticas públicas que garantam uma vida longa, digna e com autonomia para todas as pessoas. Afinal, envelhecer com dignidade não é privilégio: é um direito básico que precisa ser reconhecido, protegido e efetivado.

Mais do que números e estatísticas, esse debate exige profundidade. É preciso compreender as desigualdades que atravessam o envelhecimento da pessoa com deficiência e refletir sobre o nosso papel, enquanto sociedade, instituições e poder público, na construção de um país que respeite, cuide e assegure condições reais de qualidade de vida ao longo do tempo.

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