Pela primeira vez na América Latina, evento reuniu especialistas, lideranças e pessoas cegas ou com baixa visão para debater acessibilidade, inovação e políticas públicas
Setembro, mês marcado pela luta das pessoas com deficiência, foi cenário de um marco histórico: o Brasil recebeu, pela primeira vez, o Encontro Mundial da Deficiência Visual 2025, realizado no Anhembi, em São Paulo. Durante cinco dias, o evento transformou a cidade em um grande ponto de encontro para especialistas, ativistas, entidades da sociedade civil e pessoas com deficiência de diferentes países.
Organizado pela União Mundial de Cegos e pela Organização Nacional de Cegos do Brasil (ONCB), em parceria com o Comitê Paralímpico Brasileiro e a Confederação Brasileira de Paradesportos para Deficientes Visuais, o encontro teve como tema “Um mundo frágil, um movimento inquebrável: juntos rumo à inclusão”.
A programação se estruturou em três pilares: o Congresso Técnico-Científico, a Feira Internacional de Tecnologia Assistiva e a Assembleia Geral da União Mundial de Cegos. O espaço não apenas promoveu debates e reflexões, mas também apresentou inovações que podem transformar a vida de milhões de pessoas com deficiência visual.
Entre os participantes, Robson Terzo Feitosa, voluntário da Associação Pernambucana de Cegos (APEC), destacou a força da troca de vivências. “Foi enriquecedor aprender com palestrantes que trazem experiências reais e compartilhar desafios comuns em diferentes contextos. Esse tipo de espaço nos fortalece”, afirmou. Ele contou ainda a emoção de conhecer, pela primeira vez, usuários da Língua de Sinais Tátil, recurso essencial para a comunicação de pessoas surdocegas. “Foi marcante perceber como a acessibilidade rompe barreiras e torna possível uma inclusão efetiva”, pontuou o participante.

Entre os destaques do evento, a apresentação dos óculos inteligentes desenvolvidos pela Meta, capazes de ampliar a autonomia de pessoas cegas ou com baixa visão, atraiu as atenções. Mas o encontro também trouxe reflexões sobre os desafios enfrentados no Brasil. “O país ainda convive com barreiras físicas e capacitistas, apesar dos avanços. No entanto, temos profissionais, entidades e ativistas comprometidos em mudar essa realidade”, avaliou Robson.
Para ele, ouvir o relato de um palestrante surdocego sobre a conquista de seu mestrado foi um dos momentos mais simbólicos do encontro. “É a prova viva de que nenhuma barreira pode impedir uma pessoa com deficiência de alcançar seus objetivos.”
Na avaliação de participantes e especialistas, encontros como este funcionam como sementes de transformação. “São espaços de aglutinação de ideias. Quando nos unimos, ganhamos força para propor políticas públicas mais eficazes e cobrar mudanças. Esse espírito de união é o que levarei para a associação e para minha vida”, concluiu Robson.