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Atividade física adaptada cresce e estimula práticas mais acessíveis

Três pessoas posam sorrindo em um ambiente esportivo coberto. No centro, há um homem sentado em uma cadeira de rodas, usando camiseta branca e uma medalha prateada no peito. Ele segura uma garrafa azul entre as pernas. Ao lado esquerdo e direito, duas pessoas ajoelhadas, um homem e uma mulher, vestem camisetas vermelhas com o nome Pharmafeller Games e crachás azuis pendurados no pescoço. Todos olham para a câmera, próximos e alegres.

Pedro Moury encontra no crossFit adaptado uma forma de se movimentar, garantir bem-estar e inspirar outros atletas

“Cada treino é uma prova de que posso superar barreiras que antes pareciam intransponíveis, e isso levo para a vida.” A frase do atleta Pedro Moury resume o significado que o esporte ganhou em sua trajetória após uma cirurgia de hérnia de disco, onde houve uma compressão entre as vértebras T9 e T11, comprimindo e assim perdendo os movimentos temporários. Desde que passou a utilizar cadeira de rodas, ele encontrou na atividade física adaptada não apenas uma forma de manter o corpo em movimento, mas um caminho de autonomia, superação e transformação social.

A virada começou quase por acaso. Um convite de uma amiga que o levou para participar de um treino funcional, acompanhado por um coach que cedeu o horário de almoço para orientá-lo. Dentro de uma box, Pedro experimentou uma sensação que mudaria tudo: a liberdade de se mover novamente.

“Eu sentia que podia fazer qualquer coisa, desde dirigir com mais segurança até realizar atividades simples do dia a dia. Era como ganhar de volta parte da minha independência”, relembra.

O coach e professor de educação física Hely Ribeiro, responsável por guiá-lo nos primeiros treinos, lembra bem daquele encontro que, segundo ele, também transformou sua forma de enxergar o esporte.

“Pedro sempre foi um cara muito pra cima. Ele dizia que o ‘não’ já tinha, então queria tentar. Lembro que, quando o conheci, ainda era estagiário, e foi um aprendizado para mim também. Ele sempre buscou sair da zona de conforto e me ensinou a buscar mais conhecimento e novos exercícios”, recorda Ribeiro.

Desse momento em diante, o esporte deixou de ser apenas uma prática física e se tornou uma ferramenta de reabilitação emocional e social. Em 2019, Pedro conheceu o crossFit adaptado, modalidade que combina força e resistência. O início foi desafiador, mas a paixão foi imediata e, os resultados logo apareceram. Vieram os primeiros campeonatos, os pódios e até uma classificação para uma competição internacional.

“O esporte me desafia todos os dias, mas também me mostra que as barreiras estão mais na mente do que no corpo. Cada treino é um lembrete de que eu posso mais”, afirma o atleta.

Pedro sentado em uma cadeira de rodas, ergue um haltere preto acima da cabeça com o braço direito. Ele usa camiseta azul e munhequeira preta. Ao lado dele, um homem blusa azul. Ao fundo, há outras pessoas treinando.

Com o amadurecimento da trajetória, Pedro decidiu transformar sua vivência pessoal em impacto coletivo. Fundou uma ONG “Somos” voltada as pessoas com lesão medular, oferecendo acesso gratuito à prática esportiva adaptada. O projeto já inspira outras pessoas que utilizam cadeiras de rodas cadeirantes que, por anos, permaneceram isolados em casa, muitos sem referências, oportunidades ou esperança de voltar a se movimentar.

“Entendi que minha missão era mostrar que nada nos limita. O esporte é uma ferramenta poderosa de inclusão e transformação social. As mudanças vão além do corpo: força, equilíbrio e coordenação se somam a ganhos emocionais, como o fortalecimento da autoestima, a redução do isolamento e o resgate da dignidade”, conclui Moury.

Desafios que ainda persistem

Apesar dos avanços, o cenário da atividade física para pessoas com deficiência ainda enfrenta obstáculos significativos. A falta de infraestrutura adaptada, a escassez de políticas públicas e o preconceito seguem como barreiras que limitam o acesso ao esporte. Outro ponto crítico é a formação de profissionais de Educação Física, pois ainda há pouca capacitação sobre práticas adaptadas, o que restringe o desenvolvimento de programas inclusivos e seguros.

“É preciso olhar para o corpo com deficiência como um corpo possível, não limitado. Quando a sociedade entende isso, o esporte deixa de ser exceção e passa a ser direito”, reforça Pedro.

O coach Hely Ribeiro também destaca a importância de preparar profissionais para atender esse público com sensibilidade e técnica. “O segredo está em enxergar potencial, não limitação. A adaptação é uma via de mão dupla: o aluno confia, e o treinador aprende todos os dias. É um processo que transforma os dois lados. Ainda faltam muitas especializações voltadas para a área, pois a maioria dos profissionais aprende na prática”, observa Hely, que há sete anos atua como profissional da educação física e é coach level 2 do crossFit. 

Saiba mais

Como começar na atividade física adaptada?

1. Procure orientação especializada

Antes de iniciar qualquer prática, consulte um médico ou fisioterapeuta para avaliar suas condições físicas e definir as modalidades mais seguras.

2. Escolha profissionais capacitados

Busque educadores físicos com formação em atividades adaptadas ou experiência com pessoas com deficiência. Eles saberão ajustar os movimentos conforme suas necessidades.

3. Comece com o que há disponível

Centros de reabilitação, academias inclusivas e projetos sociais oferecem modalidades como natação, crossfit, musculação, dança e esportes coletivos. Muitas iniciativas são gratuitas ou de baixo custo.

4. Explore projetos e políticas públicas

Programas como o Paradesporto, além de iniciativas estaduais e municipais de esporte adaptado são boas portas de entrada. Verifique se há ações semelhantes em sua região.

5. Lembre-se: movimento é liberdade

A atividade física adaptada vai muito além do exercício. É a reconquista da autonomia, o fortalecimento de vínculos sociais e a reafirmação do direito de ocupar todos os espaços.

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