Uso da tecnologia ajuda a equilibrar sessões inclusivas, mas exige revisão humana para garantia da qualidade do serviço, defende Marcelo Pedrosa
A acessibilidade nas salas de cinema do Brasil ainda enfrenta barreiras que afastam parte do público. Sessões limitadas a horários específicos, ausência de legendas em produções nacionais e legendas descritivas de baixa qualidade continuam sendo entraves para pessoas com deficiência, especialmente para a comunidade surda.
Diante desse cenário, Marcelo Pedrosa, fundador do Movimento Legenda Nacional, defende que a Inteligência Artificial (IA) pode se tornar uma aliada estratégica na construção de uma programação cinematográfica verdadeiramente inclusiva. Em artigo publicado recentemente, o especialista sugere que a tecnologia seja usada para flexibilizar e ampliar recursos de acessibilidade nas sessões.
Segundo Pedrosa, a lógica pode ser comparada ao funcionamento de um painel de voos em aeroportos, que se adapta em tempo real às chegadas e partidas. Nos cinemas, a programação poderia ser ajustada para oferecer legendas, audiodescrição, Libras, dublagem ou som ambiente original de acordo com a demanda do público.
“Assim como um painel de voos se adapta às mudanças, a grade dos cinemas poderia se reorganizar conforme as necessidades de acessibilidade, sem comprometer a experiência dos demais espectadores”, explica.

Crédito da foto: Legenda Nacional
Apesar do potencial, o especialista alerta que a IA não deve ser vista como solução isolada. “É indispensável haver revisão humana e padronização técnica. Erros em legendas automáticas ou falhas no sistema podem excluir ainda mais quem já enfrenta barreiras”, reforça.
O debate sobre acessibilidade no audiovisual já vem ganhando espaço. Festivais de cinema têm realizado sessões inclusivas, plataformas de streaming ampliaram recursos como legendas e audiodescrição, e movimentos sociais, entre eles, a Campanha Legenda Nacional, que seguem pressionando por mudanças estruturais. “O desafio é transformar essas iniciativas pontuais em política pública permanente”, pontua Pedrosa.
Para o especialista, o futuro da acessibilidade no cinema vai além das telas. Ele projeta um modelo multissensorial, com recursos como cadeiras vibratórias que transmitem sons por meio de vibrações, integrado a uma programação inteligente construída em diálogo direto com pessoas com deficiência. “Isso pode se tornar realidade em menos de cinco anos, se houver vontade política e uso da tecnologia certa”, conclui.